Niemeyer: O tempo desbastado.
Os números são infinitos, mas os algarismos cabem todos nas duas mãos.
Na porção de água que aplaca a sede está a água de todos os céus e de todos os oceanos.
Alguns grãos podem silenciar uma fome e duas ou três formas essenciais desenham todas as roupas que vestiram e vestem todos os humanos.
Do mesmo modo, sob o signo da Beleza, algumas formas simples podem acolher todos os homens.
O homem, por biológica necessidade de sobrevivência, já nasceu sabendo dosar o grão e a água e, nos rincões mais austeros, cobrir sua anatomia.
Curiosamente, para aprender a morar, precisou esperar algumas dezenas de milênios.
Lendo-se apenas a página mais recente da nossa greco-romana civilização, foram necessários 25 séculos. Vinte e cinco séculos de colunas, colunatas, frontões e outros festivos ornamentos.
Vinte e cinco séculos para subtrair os excessos. Até poder chegar ao núcleo curvo das formas simples, da essência em armado concreto. Até chegar à Beleza que é, sem epítetos ou adjetivação. Como todas as coisas essenciais: o grão, a água, as vestes, uma casa, a justiça.
Oscar Niemeyer desbastou o Tempo.
Professor Verô.
+ There are no comments
Add yours