Cinema: Retrospectiva completa de Jonas Mekas
O diretor lituano JONAS MEKAS mudou-se para os Estados Unidos em 1949, depois de passar alguns anos nos “displacement camps” – os campos que, depois da Segunda Guerra, abrigaram os prisioneiros libertados pelos aliados e que não podiam voltar aos seus países de origem. Com mais de 90 anos, Mekas continua realizando o trabalho que vem desenvolvendo ao longo de mais de seis décadas.
Seus registros do cotidiano em Nova Iorque constituem um “cinema do menos“, evitando sistematicamente os grandes temas. Sua atenção recai sobre coisas aparentemente sem importância e efêmeras, mas das quais sabe captar uma beleza intensa e invariavelmente fugidia. Aproxima-se, nesse sentido, do “alumbramento” presente nos grandes momentos da poesia de Manuel Bandeira (“Mozart no céu”, “Momento num Café”, “Na Rua do Sabão”…) e das crônicas de Rubem Braga (“Visão”, “As Meninas”, “Marinheiro na rua”…).
Toda a obra de Jonas Mekas (filmes, colaborações em diversas publicações, criação do Anthology Film Archives) constitui um esforço para a realização e preservação do cinema experimental. Por isso, durante muito tempo, o diretor integrou um comitê que pretendia “definir a arte do cinema”, ao tentar reunir os principais “monumentos do cinema como arte”. O projeto resultou numa coleção de 330 filmes.
Jonas Mekas organizing a fundraiser with Moby and Sonic Youth to raise money to convert his 70,000 rare indie movies to digital.
A mostra que ora se realiza no CCBB e no CINUSP exibe cinco programas (constituídos de longas, médias e curtas metragens) pertencentes a esse ambicioso projeto. Palestras com convidados ilustres, como Ismail Xavier, completam a retrospectiva.
Entre os 42 títulos a serem exibidos, destacam-se:
1. CENAS DOS ÚLTIMOS TRÊS DIAS DE ALLEN NA TERRA. Um dos registros mais contudentes já realizados pelo cinema-verdade. Quando o poeta beat Allen Ginsberg recebe o diagnóstico de um câncer terminal, decide passar seus últimos dias em casa. Uma cama de hospital é instalada em seu apartamento-estúdio e um grupo de amigos , entre os quais alguns monges budistas, irão preparar a cerimônia para levá-lo para a viagem em direção ao mundo espiritual. O filme mostra em tempo real esses momentos finais, inclusive a morte de Ginsberg, quando os cantos do ritual são interrompidos pelo silêncio.
Sessão única (imperdível) – dia 5.02 às 16h00 no CINUSP
2. AS ARMAS DAS ÁRVORES, uma reflexão, a partir de textos de Ginsberg, sobre o perigo atômito
Sessão única – dia 4.02, às 16h, no CINUSP
3.REMINESCÊNCIA DE UMA VIAGEM À LITUÂNIA, filme realizado a partir de imagens que registram a chegada de Mekas nos EUA e o retorno ao vilarejo onde nasceu
Sessão única – dia 15.02 às 17h30, no CCBB
4. A PRISÃO, inquietante encenação da última apresentação do espetáculo homônimo pelo grupo The Living Theatre, antes que a trupe tivesse que desocupar o teatro no qual estava ensaiando. O texto é uma obra-prima sobre a estupidez dos exércitos.
Sessões de outros filmes: até 17.02, os filmes serão exibidos no CCBB (R Alvares Penteado, 112) e no CINUSP
Ingressos: 2,00 (a meia entrada no CCBB) e entrada franca no CINUSP
IMPORTANTE: nos fins de semana, é aconselhável adquirir os ingressos com antecedência para as sessões do CCBB.
Oportunidade mais do que rara para conhecer uma cinematografia original.
Professor Verô
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