TODOS OS CANDIDATOS SÃO CORRUPTOS E PERFEITOS


Do mesmo modo que cada brasileiro se acha um técnico de futebol e um crítico musical, em tempos de campanha política todo mundo se acha o mais profundo conhecedor das engrenagens do poder e o mais abalizado crítico de todos os políticos. Mesmo que sua opinião não passe, na maioria das vezes, de um amontoado de clichês e informações de orelhada colhidas no balcão do boteco ou no miserável horário político, que, de resto, de político não tem quase nada. Autoelogios, acusações, baixarias e muita marketagem moldam, assim, convicções elevadas à categoria de verdades incontestáveis por boa parte dos eleitores.

E tudo fica bem pior quando cada um empunha a bandeira de um partido ou de um candidato como se este fosse o político (e o ser humano) ideal, perfeito, platônico. Em contrapartida, todos os outros são ladrões, corruptos e dignos, se possível, de um linchamento. E assim o PT e o PSDB se tornam a encarnação do bem e do mal (ambos sendo um ou outro, conforme a opção de cada partidário), enquanto o PSB sobrevoa o cenário nacional com suas trombetas de anjo do bem ou anjo vingador. Petistas acusam peessedebistas que acusam petistas, enquanto peessebistas acusam Dilma e Aécio e os defensores destes se unem para sapecar Marina.

Em meio a tantas acusações, os eleitores mais radicais (a maioria, diga-se de passagem) tendem a isolar seu candidato como se ele e/ou seu partido fossem perfeitos. Esses eleitores ignoram, em geral, todas as formulações teóricas elaboradas ao longo dos séculos – Maquiavel, Hobbes, Rousseau, Locke, Toqueville e tantos outros. Ignoram que todas as teorias políticas construídas até hoje sempre lidaram com o fato incontornável (até que se descubra uma solução) de que nenhum sistema ou partido é perfeito e nenhum governante pode atender jamais à vontade de todos. A política sempre foi, por isso, a arte do possível, de tentar governar em nome dos interesses da maioria, sabendo qualquer candidato ou governante que ele jamais será perfeito e jamais poderá agradar a todos.

Mas o eleitorado, moldado sobretudo pela baixaria TELEVISIVA, insiste na pureza do seu candidato.  Seja lembrado que todos os candidatos, antes de serem políticos, são seres humanos e, como tais, passíveis de toda mesquinharia, falta de ética, vaidades e jogos de interesse que compõem nossa nada nobre natureza humana. O reconhecimento desses sentimentos fez o banquete do romance realista e produziu algumas das melhores análises da psicologia humana, como o atestam as narrativas de Tolstoi, Dostoievski, Flaubert e Machado.

De resto, a polarização esquerda/direita há muito perdeu o sentido num mundo globalizado em que as leis do mercado financeiro e o poder da mídia ditam as regras do jogo. Some-se a isso o desafio do desenvolvimento sustentável num planeta que enfrenta as alterações climáticas e o aumento da natalidade em progressão geométrica nos países pobres. Quem pode governar melhor, a esquerda ou a direita? A resposta é ambas, desde que tenham um programa sério. Por isso demonizar ou endeusar partidos e/ou candidatos é uma atitude INFATILÓIDE que não leva a lugar algum. A política, disse certa vez Antônio Ermírio de Moraes, “é a arte de pedir dinheiro aos ricos, fazer promessas aos pobres e, uma vez eleito, o candidato esquecer-se de ambos”.

Claro que foi uma frase de efeito, mas que, nas entrelinhas, ironizava a ideia ingênua de um político perfeito. Por outra via, nenhuma sociedade pode viver sem representação política. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Nesse matagal (ou jaula) estão, portanto, candidatos e eleitores, atiçados por outra fera, a mídia. Por isso vem a calhar o excelente documentário em cartaz de Jorge Furtado, O MERCADO DE NOTÍCIAS, que, entre outras coisas, analisa brilhantemente dois episódios, um envolvendo José Serra e outro o governo Lula, em que a manipulação da mídia foi decisiva para a construção de duas gigantescas mentiras veiculadas pela imprensa como verdades.

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