O que é o TDAH? Como não deixar o transtorno atrapalhar os estudos?
Um dos transtornos mentais mais pesquisados na internet é o TDAH. Estima-se que entre 3% a 6% da população mundial tenha o transtorno.
Mas existem muitas dúvidas relacionadas à patologia e às suas manifestações.
Dificuldade em focar em uma atividade específica, agitação, desorganização e ansiedade são alguns sintomas do TDAH – Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade ou DDA.
O maior inimigo no enfrentamento do transtorno é o desconhecimento, tanto por parte do seu portador quanto de seus pais, responsáveis e colegas.
É comum que pessoas com o transtorno sejam taxadas como habitantes do “mundo da lua”, bagunceiras e incansáveis. Para a aprendizagem, tais características podem ser um problema, tanto no desenvolvimento intelectual e absorção dos conteúdos, quanto na socialização com os colegas.
Para orientar os vestibulandos sobre essa questão, conversamos com a psiquiatra do Hospital Sírio Libanês e da Faculdade de Medicina da USP, Dra. Anne Brito.
“De fato, a desatenção e a desorganização são características comuns na população, mas isso não significa que todos têm TDAH. Para se fazer o diagnóstico, um CONJUNTO de sinais e sintomas devem estar presentes simultaneamente e devem estar presentes antes dos 12 anos de idade: deve existir um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade e impulsividade que se manifestam em mais de um ambiente (por exemplo: em casa e na escola, em casa e no trabalho) e traz muitas consequências negativas, como prejuízos acadêmicos, de produtividade, de relacionamentos” explica a doutora.
Segundo ela, pais e escola devem ficar atentos quando alguns comportamentos das crianças ou adolescentes se tornam frequentes e começam a prejudicar seus relacionamentos e seu desempenho nas atividades. “Sinais de desatenção, como quando crianças e adolescentes que parecem estar no “mundo da lua”, perdem objetos com frequência, não conseguem sustentar a atenção em tarefas e em brincadeiras, têm dificuldade de se organizar em tarefas ou atividades, deixando-as inacabadas. Por incrível que pareça, os sinais de hiperatividade ou impulsividade são os mais negligenciados, e a criança muitas vezes é rotulada como “mal-educada” ou disruptiva: é inquieta, fala muito, não espera sua vez, se envolve com frequência em brigas ou discussões ou tem dificuldade de seguir normas ou regras”, conta a doutora, mostrando que muitas vezes não percebemos quando a criança precisa de ajuda profissional.
Anne explica, entretanto, que o diagnóstico é realizado com base em diversas evidências e, só após consulta minuciosa, além da verificação da manifestação dos sintomas confirmados por pais, cuidadores e parecer escolar é possível confirmar o transtorno.
“O diagnóstico é clínico, não existe um exame de imagem ou laboratorial que o sugiram ou confirmem – embora, em muitos casos, um exame neuropsicológico contribui muito para a confirmação do quadro ou a investigação de outras patologias associadas, como déficits cognitivos, transtornos da aprendizagem e outras . Para ser diagnosticada, a pessoa deve passar por uma consulta psiquiátrica minuciosa, que investigue a presença dos sintomas característicos do transtorno. No caso de crianças e adolescentes, além da avaliação é fundamental uma entrevista com os pais ou cuidadores e ainda um parecer da escola”, esclarece a médica.
A primeira dúvida que surge após o diagnóstico do transtorno é quais serão os próximos passos para controlar os seus efeitos.
Existem tratamentos que envolvem remédios e outros que dispensam a medicação.
Importante: quem define qual é o caso e o tratamento recomendado é o médico especialista, ok?
E a doutora Anne ressalta que, quando o tratamento é devidamente aplicado, não há grandes complicações para os pacientes.
“O que mais traz limitações é ter os sintomas de TDAH sem o tratamento adequado. Muitos estudos demonstram, em comparação a pessoas sem esse diagnóstico, maiores taxas de déficit acadêmico, piores condições de emprego, maiores taxas de acidentes automobilísticos, de uso de substâncias, gravidez indesejada, bem como transtornos psiquiátricos, como depressão ou ansiedade. Sendo assim, o tratamento pode ser um divisor de águas para o futuro desses pacientes. Existe o tratamento medicamentoso e não medicamentoso. O medicamentoso consiste no uso de medicamentos diariamente. Esses medicamentos têm elevado perfil de segurança, mas devem ser acompanhados por um médico. O tratamento não medicamentoso envolve a psicoterapia, acompanhamento fonoaudiológico e/ou apoio escolar”.
O TDAH para o vestibulando
Como a falta de concentração é um dos principais sintomas do TDAH, é natural que o transtorno influencie no desempenho do estudante no Vestibular.
Mas existem mecanismos legais para garantir que o portador do transtorno tenha a mesma oportunidade que os demais candidatos. Segundo a Lei da Inclusão, alunos com TDAH têm direito a 1 hora a mais para a realização de alguns processos seletivos, como por exemplo no ENEM. Vale a pena consultar o Edital do Vestibular da Faculdade escolhida e verificar se a Lei se enquadra no seu processo seletivo.
Para o período de preparação, as coisas não mudam tanto. A doutora ressalta que é importante o vestibulando estar com o devido tratamento e uma metodologia de estudos bem definida. Fora isso, não existem grandes alterações.
Conheço alguém com TDAH. Como posso ajudar?
A atitude acolhedora de pessoas próximas do portador da doença é fundamental para o progresso saudável. Algumas pequenas ações podem afetar – e muito – quem tem esse tipo de déficit. Confira a orientação:
“É muito importante não julgarmos ou rotularmos alguém, sobretudo uma criança ou um adolescente, que estão em desenvolvimento e sua personalidade ainda não está moldada. Muitas vezes a própria criança acredita nesses rótulos que lhe foram colocados e pode jamais sair desse papel”, expõe a médica.
Ela também considera importante trazer o TDAH para o debate público, para quebrar preconceitos sobre a doença e promover a informação para que pessoas que sofrem com esse problema o compreendam e busquem ajuda profissional.
“O estigma associado aos transtornos mentais é uma das grandes causas que leva a pessoa a não buscar ajuda. A falta de tratamento pode levar inclusive a pensamentos suicidas e, conforme alerta a OMS, essa é a segunda causa de morte na faixa etária entre 10 e 25 anos”, ressalta a doutora.
Com empatia e informação é possível combater os preconceitos e garantir todo o apoio possível para quem sofre com o TDAH ou com outros transtornos mentais.
No site da ABDA (Associação Brasileira do Déficit de Atenção), você encontra mais informações e profissionais disponíveis para o tratamento.
Não deixe de conferir o Instagram da Dr. Anne Brito.
E, na presença dos sintomas, busque ajuda profissional adequada.
Abraços e até a próxima leitura.
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